Em seu livro "Quando a Fé não é Suficiente", Kelly James Clark argumenta que desenvolvemos mecanismos elaborados de defesa social para não nos sentirmos anônimos e medíocres. Usamos várias estratégias para nos convencermos de que somos melhores do que aqueles à nossa volta.
Um indício revelador de como nossa vida é competitiva é a diferença quando explicamos nossos fracassos e os dos outros. Quando nos atrasamos para uma reunião, não é nossa culpa: o carro não queria pegar, o trânsito estava parado ou as crianças estavam doentes. Mas quando é o outro que se atrasa, ele é culpado: irresponsável, desorganizado, despreocupado. Como todos nós em algum momento falhamos, há amplas oportunidades para nos pintarmos sob uma luz favorável e aos outros de modo desfavorável.
Para Clark, nossa identidade é determinada por comparação; 'Pelo menos não sou tão estúpido como Fulano'; 'Sou mais expressivo que Cicrano'. Somos os fariseus criticando os publicanos. Sugamos o valor daqueles que nos parecem abaixo de nós e o injetamos em nosso eu sempre exigente.
"Todo homem deseja que os outros o valorizem como ele mesmo o faz; e sobre todas as manifestações de desprezo ou de depreciação, esforça-se ao máximo para arrancar algum valor aos que o desprezam" (Thomas Hobbes, cientista político).

"Para alguns que se julgavam bons, estavam satisfeitos com sua condição moral e olhavam de nariz empinado para o povo simples, Jesus contou a seguinte história: 'Dois homens foram ao templo para orar, um fariseu e um cobrador de impostos. O fariseu, cheio de pose, orava: ‘Oh, Deus! Sou grato por não ser como esse bando de ladrões, trambiqueiros, adúlteros ou como este cobrador de impostos. Sabes que jejuo duas vezes por semana e dou dízimo de toda a minha renda’. Enquanto isso, o cobrador de impostos, de cabeça baixa num canto, com as mãos no rosto, não ousava nem olhar para cima. Apenas dizia: ‘Deus, tem misericórdia! Perdoa este pecador’. Jesus comentou: 'Quem voltou para casa justificado diante de Deus foi o cobrador de impostos, não o outro. Se você andar por aí de nariz empinado, vai acabar de cara no chão, mas, se com humildade enxergar quem você é, acabará se tornando uma pessoa melhor'" (Lc 18:9-12).
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