terça-feira, 5 de maio de 2015

Por causa dela!


“Por causa dela [Sara]...” (Gn 12:16)


Contexto

Logo após a manifestação explícita do maligno desejo do homem: tornemos célebre o nosso nome (Gn 11:4) que se daria pela edificação da torre de Babel, o Senhor desceu e viu: “Eis que o povo é um... Isto é apenas o começo, agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer” (v. 6). Assim, dispersou a todos e confundiu sua linguagem (v.9).

Passaram-se centenas e centenas de anos e nada de importante havia acontecido, até o advento do nascimento de Abrão (v. 26) e a este especificamente o Senhor chamou e lhe fez uma promessa dizendo: “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome(Gn 12:2). O próprio Senhor se incumbiu de lhe engrandecer o nome, contrariamente à tentativa fracassada daqueles da torre de Babel.

O Chamamento de Abraão

Ao chamar Abrão, a ordem era de separação para o cumprimento da promessa de Deus. Ele deveria sair de sua terra, da sua parentela e da casa de seu pai e ir para a terra que Deus lhe mostraria (v.1), mas Abrão achou por bem levar muitos outros consigo (v. 5). Mais tarde, no entanto, houve separações importantes na descendência imediata de Abraão, em fases distintas:
·      Abrão e seu sobrinho Ló separam-se (Gn 13)
·      Abraão separou os filhos das concubinas de seu filho Isaque (Gn 25:5)
·      (Mas, Ismael se estabeleceu fronteiro a seus irmãos) – (Gn 16:12; 25:18)
·      Abimeleque separa-se de Isaque (Gn 26:16)
·      (Esaú se une à casa de Ismael, em rebeldia aos pais) (Gn 28:9)
·      Jacó foge da presença de Esaú (Gn 28:5)
·      Jacó foge da presença de Labão (Gn 31:20,21)
·      Jacó se reconcilia com Esaú, mas não segue junto com ele (Gn 33:15-17)

A terra a que se referia o Senhor era Canaã e “ali edificou Abrão um altar ao Senhor, que lhe aparecera” (v. 5-7). Passando dali, entre as cidades de Betel e Ai “edificou um altar ao Senhor e invocou o nome do Senhor” (v. 8). Abrão era peregrino, nômade, um homem de altar e tendas. Betel significa “casa de Deus” e Ai significa “ruínas”. “Depois, seguiu Abrão dali, indo sempre para o Neguebe” (v. 9) e, por causa da fome que assolava a terra, fez uma interrupção em sua jornada, “desceu, pois, Abraão ao Egito, para aí ficar”. Resolveu se fixar em um lugar, e logo no Egito. Podemos entender que permanecer entre a verdadeira casa de Deus que é a Igreja restaurada e um lugar de ruínas, o mundo, por exemplo, ou a religiosidade caída, acaba-nos conduzindo para uma situação de  morte espiritual, representada pela fome no Egito.

Sara, o centro das atenções!

É nessa situação que aparece Sara, que significa “princesa”, como o centro das atenções, primeiramente de Abrão, seu esposo, depois dos egípcios, em seguida dos príncipes de Faraó, do Faraó mesmo e, principalmente, do próprio Senhor:

·      De Abrão: “Ora, bem sei que és mulher de formosa aparência... Dize, pois, que és minha irmã, para que me considerem por amor de ti e, por tua causa, me conservem a vida” (v. 11-13).
·      Dos egípcios: viram os egípcios que a mulher era sobremaneira formosa (v. 14)
·      Dos príncipes de Faraó: Viram-na os príncipes de Faraó e gabaram-na junto dele”, ou seja, junto do próprio Abrão. (v. 15)
·      Do Faraó: “Este, por causa dela, tratou bem a Abrão”, que se tornou homem rico (v. 16) e tomou Sarai para ser sua mulher (v. 19).
·      Do Senhor: “Porém o Senhor puniu a Faraó e a sua casa com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão” (v. 17).

Faraó repreendeu severamente a Abrão e disse “toma-a e vai-te” (v. 20). Foi assim que ele retomou a sua viagem para o Neguebe. Em seguida, “Fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde primeiro estivera a sua tenda, entre Betel e Ai” (v. 3).

Abraão e seu sobrinho

Por causa das riquezas, começaram a surgir contendas entre Abrão e Ló e, pacificamente, Abrão sugeriu que seu sobrinho escolhesse o seu rumo, que ele seguiria para o outro lado. Ló escolheu a planície: Levantou Ló os olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, como o jardim do Senhor, como a terra do Egito”  (v. 10). Abrão teve que seguir para o lugar mais montanhoso. “Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha...” (v. 14). Do alto, ele pôde contemplar toda a terra de Canaã e recebeu a promessa do Senhor: “toda esta terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre.” (v. 15). Neste ínterim, “Ló ia armando as suas tendas até Sodoma. Ora, os homens de Sodoma eram maus e grandes pecadores contra o Senhor” (v. 12,13). Muito tempo depois, em uma guerra de quatro reis contra cinco (14:1,2) Ló foi levado cativo e perdeu tudo o que tinha (14:12), tendo sido oportunamente libertado por seu tio Abrão, recuperando tudo o que havia perdido (v. 14-16).

O prêmio de Abraão

Sucedeu que Abrão foi abençoado por Melquisedeque, “sacerdote do Deus Altíssimo” (v.18) e “Depois destes acontecimentos, veio a palavra do Senhor a Abrão, numa visão”: o Senhor lhe seria por escudo e ele receberia um galardão sobremodo grande (15:1).

O processo de geração da descendência prometida a Abrão foi complexo e cheio de interpretações pessoais problemáticas:

1.     A interpretação de Abrão: o herdeiro seria o seu servo Eliézer

O Senhor havia-lhe prometido: “Farei a tua descendência como o pó da terra” (13:16). Abrão interpretou que o seu servo, criado em sua casa, poderia ser considerado o seu descendente e desabafou: “Senhor Deus, que me haverá de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer?” (v. 2) e citou o código de Hamurabi, vigente na época, dizendo “um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro” (v. 3). A resposta do Senhor foi imediata: “Não será este o teu herdeiro” (v. 4a).

2.     A interpretação de Sara: o herdeiro viria de sua serva Agar com Abrão: Ismael
 
O Senhor especifica um pouco mais a sua promessa: “... mas aquele gerado de ti será o teu herdeiro” (v. 4b). Com base nestas palavras, Sarai encontrou lugar para oferecer a sua ajuda, tendo em mente o mesmo código de Hamurabi e sem desconsiderar que o filho seria de fato gerado de seu marido. “Disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela. E Abrão anuiu ao conselho de Sarai.” (16:2). “Sarai, mulher de Abrão, tomou a Agar, egípcia, sua serva e deu-a por mulher a Abrão... Ele a possuiu , e ela concebeu” (v. 3,4). Como conseqüência, Agar desprezou sua senhora, Sarai e, por isso, foi por ela humilhada, fugindo de sua presença. O Anjo do Senhor a encontrou e ordenou que voltasse e se humilhasse, pois seria abençoada com uma numerosa descendência. O seu filho se chamaria Ismael e habitaria fronteiro a todos os seus irmãos (v. 4-12). “Era Abrão de oitenta e seis anos, quando Agar lhe deu à luz Ismael” (v. 16). Por causa disso, perdeu a presença do Senhor por treze anos.

3.     O cumprimento da promessa do Senhor: o herdeiro veio de Abraão e Sara: Isaque

”Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito”. Deus lhes mudou o nome para Abraão e Sara (v. 5,15) e fez aliança com ele:Far-te-ei fecundo extraordinariamente (17:1,6). Sara, tua mulher, dará a luz (18:10). “Riu-se pois Sara no seu íntimo” (v. 12). Ela já achava demais ter Ismael como filho (17:18) “Visitou o Senhor a Sara... e o Senhor cumpriu o que lhe havia prometido. Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão na sua velhice... Ao filho que lhe nasceu... pôs Abraão o nome de Isaque.” (21:1)

Agar e Sara: Escravidão pela Lei x Liberdade pela Graça

Agar e Sara são uma alegoria das duas alianças, uma para a escravidão e outra para a liberdade. “Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma na verdade, se refere ao Monte Sinai, que gera para a escravidão; esta é Agar... Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe... Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque... E, assim, irmãos, somos filhos não da escrava e sim da livre.” (Gl 4:24-31). 
Assim, Sara representa a Jerusalém lá do alto, a Igreja. Historicamente, todas as coisas acontecem “por causa dela”!
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5:1).
     Eu creio!


                                                                                                                

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