Em 1 Rs 4:32 temos a informação de que Salomão escreveu 1.005 cânticos e sabemos que um deles é considerado sublime. Muitíssimo interessante é que este Cântico dos Cânticos tem exatamente cinco segmentos, que interrompem bruscamente o desenvolvimento do texto com a expressão “Conjuro-vos...” (Ct 2:7; 3:5; 5:8; 8:4) e, ainda, concluindo o segmento anterior descansando nos braços do Rei (Ct 2:6; 3:4; 8:3), ou com um profundo desejo de estar com Ele (Ct 5:6). Não seriam, então, 1.000 cânticos mais o Cântico dos Cânticos com os seus cinco segmentos?!
Cântico dos Cânticos é uma história de amor entre um riquíssimo rei que vive na capital e uma pobre camponesa do interior: o sábio Rei Salomão, o escritor do livro, e Sulamita (Ct 6:13). Como tal, este livro é um maravilhoso e vívido retrato, em forma poética, do noivado entre Cristo e a Igreja (Jo 3:29-30; Ap 19:7), em uma relação de mútuo desfrute, pela mistura dos atributos divinos, em Cristo, com as virtudes humanas daqueles que O amam. O poema refere-se não apenas ao Corpo de Cristo, coletivamente, mas a cada cristão, individualmente, revelando a progressiva experiência de relacionamento de cada cristão com o Senhor Jesus, que se dá em cinco estágios:
- A experiência da salvação e satisfação em Cristo (Ct 1:1 - 2:7);
- A experiência da cruz (Ct 2:8 - 3:5);
- A experiência da vida de ressurreição e de ascensão (Ct 3:6 - 5:1);
- A experiência de cooperar com Deus (Ct 5:2 - 7:9); e
- A experiência da plena união com Cristo (Ct 7:10-8:14).
No romance entre o grande Rei Salomão, que vivia em Jerusalém, e a camponesa, que vivia no interior (Ct 1:5-8), pelo fato de os dois estarem tão distantes em termos de vida e caráter, o rei se despe de toda a sua glória, tornando-se um homem simples para cortejar a sua amada e conquistar o seu amor, fazendo-a rainha. Isto é um tipo do romance de Deus com a humanidade. Para atender ao desejo do Seu coração, Deus tornou-se homem, O Verbo, que era Deus (Jo 1:1) se fez carne (Jo 1:14) para ser recebido por aqueles que crêem no Seu nome (Jo 1:12), e que se regozijam muito com a voz do Noivo, para a Sua completa satisfação (Jo 3:29). Com esta intenção de torná-la rainha, Deus, em Sua ressurreição, e pelo poder do Espírito Santo, dispensa a Sua própria vida para dentro do espírito humano, regenerando-o (1 Pe 1:3, 23; Jo 3:6). Depois, o transforma gradualmente, operando em sua alma e, por fim, transfigura o seu corpo, tornando-o incorruptível. Assim, o romance em Cântico dos Cânticos relata este processo de transformar a camponesa Sulamita em Sua esposa, uma cooperadora que lhe é idônea (Gn 2:18), uma figura da Nova Jerusalém, que vem da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o Seu Noivo (Ap 21:2).
Ainda, vale ressaltar o significado dos nomes. Salomão significa príncipe da paz. Sulamita é a forma feminina de Salomão, porém, antes de ser conquistada pelo Rei ela habitava no meio de um povo que vagueava sob o intenso calor e efeito do sol, que odiava a paz, nas tendas de Quedar (Ct 1:5-6). “Ai de mim, que peregrino em Meseque, e habito entre as tendas de Quedar! Há muito que eu habito com aqueles que odeiam a paz ” (Sl 120:5-6).
Por fim, havemos de destacar a forte relação de equivalência entre o Salmo 45 e Cântico dos Cânticos, onde são dirigidos versos de amor ao Rei; assim como o Salmo 37 e Provérbios, com inúmeros conselhos de sabedoria; e os Salmos 39 e 73 com o livro de Jó, com profundas experiências de sofrimento.
Em Cristo,
Nenhum comentário:
Postar um comentário